Páginas

sábado, 9 de outubro de 2010

O que é um ensaio?

Licença Creative Commons
O trabalho O que é um ensaio? de Paulo Sousa está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7214571944541370405#editor/target=post;postID=754654366429796836;onPublishedMenu=posts;onClosedMenu=posts;postNum=32;src=postname.

Revisto e aumentado em 15/10/2012

Definição
É difícil definir ensaio, porque este termo designa um texto que pode ter diferentes formas e objectivos. Uma definição simples deixaria de fora a maior parte dos diferentes tipos de ensaios. Por isso, a primeira coisa que um estudante tem a fazer quando o seu professor lhe pede um ensaio é pedir indicações precisas sobre o tipo de trabalho que se pretende.

Um ensaio é um trabalho de síntese. Tal significa que antes da sua redacção teve de haver um trabalho preparatório de recolha, compreensão, reorganização e análise da informação acerca de um determinado problema ou tema.  Para um professor, pode servir para avaliar toda aquela gama de competências (skills), mas também a iniciativa, o raciocínio crítico ou a criatividade.
  
Um ensaio pode ser um texto argumentativo, ou seja a defesa de uma tese (opinião, solução...) acerca de um problema que não tem uma resposta óbvia ou dedutiva, mas que depende, em alguma medida, de uma decisão por parte de alguém (é, em maior ou menor grau, arbitrária). Mas também pode ser a apresentação de resultados de um estudo, o desenvolvimento de um tema, a análise aprofundada de um conceito, uma biografia, o desdobramento de um problema em subproblemas, uma dissertação,... (Aquilo que os professores de português designam por dissertação costuma corresponder à nossa definição de ensaio argumentativo.)
 
Aspetos comuns
O que há de comum a estas diversas formas é o desenvolvimento ou aprofundamento de um tema ou de um problema.
Um outro aspecto comum é que se trata de um texto original - não se esperando que se descubra a pólvora, mas apenas que seja um texto pessoal, nascido de uma reflexão e/ou do estudo realizado pela pessoa que o apresenta.
O autor do ensaio tem alguma (por vezes muita) liberdade para preparar e redigir o seu texto, sendo de esperar que não haja dois ensaios iguais sobre  mesmo tema.

Plágio
Quando analisa uma obra ou pesquisa informação, cada pessoa repara em pormenores diferentes, tem interesses próprios, reflexões pessoais e uma história de vida que se vão reflectir nas observações que faz e na forma como desenrola o fio do raciocínio e monta uma dada relação entre as diferentes partes do texto. Por isso, a probabilidade de se ler dois ensaios originais iguais ou muito parecidos é quase nula (geralmente, tal significa que dois alunos copiaram a partir da mesa fonte!...). Os professores tem isso em conta e tendem a devolver ou anular os ensaios copiados.
Neste blogue podem ser encontradas recomendações para a produção de ensaios argumentativos, por ser esta a forma mais normalizada. Num ensaio argumentativo, o ponto de partida (o eixo) do texto é um problema cuja resolução assenta numa decisão ou numa aceitação: serve para persuadir um público ou para analisar, numa discussão, as justificações de diferentes respostas. Podemos utilizar a mesma estratégia de partir de um problema para realizar outro tipo de ensaio: a colocação da pergunta dá lugar à apresentação de uma resposta e à sua justificação; ...ou ao desdobramento da pergunta, ao isolamento de factores ou conceitos, à análise das relações entre os diferentes factores ou conceitos, e à apresentação de uma resposta... São dois exemplos do que se pode fazer.

A maior parte das pessoas que procuram este blogue são alunos/estudantes a quem foi pedido um trabalho. A eles dirijo uma primeira recomendação: se a sua professora lhe pediu para escrever um ensaio, procure saber ao certo o que ela (ou ele) entende que é um ensaio. Procure saber quais são os elementos que se espera que o seu ensaio tenha e a forma como eles serão avaliados. É aconselhável que aos alunos que se iniciam na escrita de ensaios sejam dadas algumas indicações, normas ou sugestões sobre como fazer um ensaio; sobretudo se se pretende obter um produto tipificado/normalizado. 
Esta tipificação é de grande importância para os alunos que se espera que venham a fazer estudos universitários. 
No entanto, alguns professores gostam que os seus alunos suem, para que o trabalho realizado deixe marcas profundas (é uma abordagem legítima, mas de dificuldade acrescida). Nestes casos, se o professor não fornece um esquema prévio do que deve ser um ensaio, é aconselhável que, a bem do fair play, aceite qualquer trabalho e saiba apreciar a qualidade que inevitavelmente lhe chegará em diferentes formas. (Os alunos devem também estar atentos, porque quando não há um padrão definido, o normal é que haja uma grande variedade. Como dissemos acima, a ausência de variedade indica que foram copiar à mesma fonte...)

Recomendações básicas:

1. Se não tiver uma ideia melhor, opte por um texto argumentativo (noutras entradas deste blogue é explicada a sua estutura - por exemplo, em http://palmo-a-palmo.blogspot.pt/2012/10/espaa20112012-filosofia-10.html,
http://palmo-a-palmo.blogspot.pt/2010/03/sugestoes-para-escrever-um-ensaio.html ou
http://palmo-a-palmo.blogspot.pt/2012/05/de-httpwww.html). 
Coloque questões, partindo de uma questão central, e responda-as. Apresente justificações e ligue as várias afirmações/respostas a que vai chegando.

2. Seja claro(a): escreva como se tivesse de se explicar a um jovem de doze anos inteligente, mas que não conhece o assunto e tem um vocabulário limitado (se tiver de utilizar termos técnicos, explique-os).

3. Siga o velho guião "Introdução - problema - tese - factos relevantes e argumentos - objeções - conclusão"
4. Não há omeletes sem ovos: a capacidade de desenvolver um tema exige conhecimento do assunto e treino. É necessário estudar e pesquisar, analisar o tema de maneira a identificar os conceitos ou tópicos-chave, fazer resumos, sínteses e diagramas. A cultura geral também é muito útil, assim como saber colocar/analisar perguntas e fazer muita reflexão pessoal ou partilhada com outros.
Se houve tempo para estudar o tema, o mais aconselhável para se fazer em seguida é identificar os tópicos ou problemas mais importantes e começar a desenvolver vários textos a partir deles (provavelmente acabando por dizer a mesma coisa a partir de pontos diferentes: pode se um trabalho monótono, mas permite que aquando da escrita do ensaio - se esta for feita na aula ou num exame - não seja preciso pensar muito sobre como o texto irá ser montado). 
Ainda que não saiba de antemão qual será o tema a desenvolver, deverá escolher e desenvolver alguns temas do tipo que espera que venha a ser debatido. Deste modo, estará a praticar a rotina de produção de um ensaio, ou seja, a mecanizar o processo de escrita, permitindo que daí em diante os seus textos quase se escrevam sozinhos.

5. Uma última recomendação: quando tiver de fazer este tipo de exercício de escrita, procura fazê-lo com alguns colegas, porque se estimularão uns aos outros.

Dois exemplos de ensaios argumentativos:
http://peripoetica.blogspot.pt/2012/06/ensaio-o-estado-deve-comemorar-feriados.html
http://peripoetica.blogspot.pt/2012/06/ensaio-religiao-e-sociedade.html

 

6 comentários:

  1. Visto que neste momento, encontro-me prestes a escrever um ensaio, a consulta deste texto está a ser verdadeiramente fundamental para que tal texto seja escrito, com sucesso!

    ResponderEliminar
  2. Gostei muito do texto! Parabéns e obrigada!

    ResponderEliminar
  3. A leitura do texto acima postado revelou-se bastante esclarecedora sobre as caracteristicas do "ensaio", trabalho que tenho que desenvolver em breve como elemento final de avaliação de uma unidade curricular.
    Obrigada.
    Maria Silva

    ResponderEliminar
  4. Bastante claro, me ajudou muito obrigada!

    ResponderEliminar
  5. Gostei muito do texto. Vai ajudar-me bastante no que pretendo fazer. Obrigada!

    ResponderEliminar

Deixe o seu comentário. No caso de necessitar de mais aprofundamento, de ter encontrado problemas ou de querer dar segundas opiniões, deixe aqui a sua mensagem. Obrigado!