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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Como avaliar um orador?



Esta questão foi colocada por um dos nossos visitantes.
É mais fácil responder-lhe do que saber avaliar um discurso. Esta avaliação  depende muito de duas coisas: de preparação teórica (cultura geral, informação especializada e conhecimento técnico na área da retórica ou da lógica) e de exercício/prática. depende também de um outro ingrediente muito importante: o atrevimento de colocar questões, de interpelar (mesmo que em silêncio, na intimidade da nossa mente), de exigir justificações, de pensar que os títulos académicos, o estatuto hierárquico, a experiência ou a idade do orador não são argumentos suficientes para aceitar ou rejeitar as suas pretensões. Um suposto especialista e excelente orador pode apresentar um discurso sem qualidade; uma pessoa sem títulos ou que se engasgue a falar pode apresentar um bom discurso, no que respeita à forma e ao conteúdo.

Regressando à questão: "Como avaliar um orador?"
Na apresentação de um discurso há três ou quatro grandes factores de sucesso. Adaptando a linguagem de Aristóteles, podemos identificar esses factores como sendo o orador, o texto e o público. A estes três podemos acrescentar, pelo menos, a situação (local, momento... - podemos acrescentar aqui os restantes factores apontados por Jakobson e por outros autores contemporâneos) em que o discurso é apresentado.

Na avaliação do orador podemos incluir todos esses factores:
- Prosódia: O orador coloca e modula bem a voz? Tem uma dicção clara? Mostra sinais de ansiedade ou de insegurança? É afável e cortez? Consegue captar e manter a tenção do público, se necessário dominando-o? Mostra segurança?
- Honestidade e competência: são outros dois factores da avaliação, porventura dos mais importantes. Os argumentos que o orador apresenta são objectivos? São verdadeiros? Esse orador utiliza o escárnio, humilha pessoas (presentes ou ausentes), utiliza argumentos baseados em emoções, sentimentos ou crenças religiosas? A informação sobre a qual assenta o seu discurso é relevante, actual e completa? Esse orador conhece e compreende outros pontos de vista para além dos seus? Que ideias defendeu ou que posições assumiu em situações anteriores?...

- Texto: O texto é sempre da responsabilidade do orador: tal como um actor representa uma personagem, um bom orador apresenta um texto como se fosse seu. Por isso, ficamos sempre à espera que esse orador acredite naquilo que nos diz (sob pena de perder toda a credibilidade e a credibilidade do texto).  Por isso, a qualidade formal e material do texto  (a sua organização e o seu conteúdo) são vistas pelo público como sendo da sua responsabilidade. 
Numa primeira análise, um discurso encontra-se bem composto se for claro, ou seja, se for fácil reproduzir a sua mensagem ou compreender um raciocínio que nos apresente. Para mais pormenores sobre estes aspectos, podem ser consultados outros artigos neste blogue.
O texto é adequado ao público? Tem uma linguagem acessível? Encontra-se bem encadeado? Encontra-se composto e maneira a deixar o público pensar ou a conduzi-lo? Apresenta a estrutura clássica? Es afirmações estão bem justificadas? Utiliza argumentos fortes ou argumentos fracos?

- Público: A reacção do público é, em última análise, a melhor medida do sucesso de um discurso. Isso não significa que seja um bom critério de avaliação da sua qualidade formal e do seu conteúdo. O sucesso obtém-se quando o público é persuadido. No entanto, há públicos que não se persuadem com os discursos mais honestos e sólidos, preferindo ser persuadidos por demagogos e arruaceiros...

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