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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Falácias para estudo

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1. Ad misericordiam (apelo à misericórdia): é uma forma de argumento baseada em sentimentos e emoções, nomeadamente uma que procura produzir um sentimento de compaixão para, a partir dele, levar o público a assumir uma determinada posição. Exemplos: 1) "Mãe, fiquei traumatizado porque chumbei o ano. Para me consolares devias oferecer-me uma mota"; 2) "Bhima era um menino indiano que morreu de fome porque a globalização pôs o seu pai no desemprego"

2. Ad hominem, ou ataque à pessoa: consiste em atacar o interlocutor, podendo este ataque ser feito de várias maneiras: ridicularizando a pessoa, denegrindo-a, supondo a sua incompetência ou supondo a falta de idoneidade moral. Note-se que o ataque é feito contra o argumentador, não contra o argumento. Exemplos: 1) "O Dr. Smith é um conhecido fundamentalista bíblico, pelo que as suas objecções relativas à teoria da evolução não precisam de ser tomadas a sério" (Carl Sagan); 2) "Heidegger pertenceu ao partido nazi, Aristóteles era alcoólico e Sócrates desprezava a sua família, pelo que as suas teorias morais não têm valor".

3. Falso dilema: É um raciocínio dedutivo que tem como principal premissa uma falsa dicotomia ou meio excluído (uma proposição que "considera apenas os dois extremos de uma série de possibilidades intermédias”, como escreveu C. Sagan: "Quem não está comigo está contra mim" ou "Ou te casas com ela, ou morrerás"). Esta apresentada a necessidade de escolher entre dois casos que são falsamente apresentados como as únicas opções possíveis. Exemplo: "Ou poupas papel, ou és contra a natureza. Se poupas, então aceitas consumir eletricidade produzida a partir de carvão. Se és contra a natureza, aceitas a monocultura de eucalipto. Logo, ou aceitas queimar carvão ou aceitas a monocultura do eucalipto.
4. Post hoc, propter hoc: (=Se vem na sequência disso, é provocado por isso) Por um facto acontecer a seguir a outro, infere-se que foi causado por este. Exemplos: 1) "Depois de terem ido á Lua o tempo nunca mais foi o mesmo"; 2) "Antes de as mulheres poderem votar não havia armas nucleares" (Pode confundir-se com a de non sequitur — “não decorre de…”: Ex. “Vencemos pq deus é grande!”)

5. Petição de princípio, ou argumento circular: "consiste em pretender provar uma conclusão, tendo, como premissa, a própria conclusão". Chama-se petição de princípio porque as suas premissas não se apoiam numa prova ou numa outra premissa independente. 1) “José queria comprar um carro novo. Alegava que desde que deixara de fazer caminhadas se sentia demasiado fatigado e obrigava-o a deslocar-se de carro, mesmo quando ia ao supermercado do bairro”; 2) “Se um objeto é valioso, então é procurado no mercado. Ora, os compradores são exigentes: só procuram objetos interessantes. Interessam-se, especialmente, pelos objetos mais valiosos.”

6. Apelo à força: assenta na apresentação de ameaças explícitas ou veladas. Podemos vê-lo também coo uma antecipação da derrota do adversário, levando-o a desistir a meio do processo argumentativo: Ex.: 1) "Não merece a pena referendar o aborto porque os cristãos vão unir-se e votar em força contra a proposta"; 2) "Se não me dás a minha borracha vou chamar a professora!"

7. Apelo à ignorância: Da ausência de provas em contrário infere-se um determinada conclusão: “Não se provou conclusivamente a hipótese de Darwin. Logo, os criacionistas têm razão”. 

8. Derrapagem ou bola de neve ou plano inclinado: Produz-se uma sucessão de inferências encadeadas umas nas outras. Cada nova inferência é cada vez menos provável. Ex: “Se ficares em casa por estares doente, os contribuintes terão de pagar a tua ida ao médico e o subsídio de doença. Dessa forma, os cofres do estado ficarão mais pobres e, consequentemente, terão de subir os impostos. Isso provocará tumultos que acabarão por levar a uma guerra civil… Arriscas-te a começar a 3ª guerra mundial!”

9. Homem de palha: Trata-se de uma distorção ou má interpretação [intencional] da tese ou dos argumentos do adversário. “Caricatura uma posição para tornar mais fácil o ataque (por exemplo, "Os cientistas imaginam que as coisas vivas se limitaram a aparecer por acaso" — uma formulação que propositadamente ignora a ideia central darwiniana, ou seja, que a natureza evolui progressivamente poupando o que funciona e eliminando o que não funciona. Ou - isto é também uma falácia curto prazo/longo prazo — "Os ambientalistas preocupam-se mais com caracóis e mochos do que com as pessoas")” (Carl Sagan).
Outro ex.: "Quando o Dr. Fernando Pádua nos diz que o sal faz mal à saúde, deve estar a querer que se deixe de por sal na comida!"

10. Apelo a uma autoridade: Uma autoridade é alguém especialista num assunto. Invocar uma autoridade sem apresentar as ideias ou factos que a tornam pertinente não serve como prova. Por outro lado, se apresentarmos essas ideias ou factos não precisamos da autoridade, a não ser para aproveitarmos o seu prestígio a nosso favor. Nenhuma autoridade nos isenta do dever de analisar criticamente uma teoria, uma hipótese ou mesmo um facto.

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